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O Dia em que uma música me deu um abraço do meu pai

  • ibiaemfoco
  • 02false18 GMT+0000 (Coordinated Universal Time)
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Uma história sobre saudade, lembranças e as canções que guardam o que o tempo não apaga.


Imagem ilustrativa criada por inteligência artificial.
Imagem ilustrativa criada por inteligência artificial.

O Cheiro do Som


Algumas pessoas lembram de tudo pelo cheiro — um perfume, o aroma de um prato favorito, o vento salgado do mar. Mas Gabriela? Gabriela lembra pelos sons.


Não era algo que ela planejava. Acontecia sem aviso, como um acorde inesperado no meio do silêncio. Uma música tocava, e de repente ela não estava mais no presente — estava mergulhada em um instante que já se foi, como se o tempo dobrasse e a levasse de volta.


Naquele dia, o aleatório do Spotify decidiu por ela. Azul da Cor do Mar, canção gravada por Tim Maia, ecoou pelos fones de ouvido, e Gabriela parou no meio da rua como se tivesse levado um soco no peito. Seu pai completaria 57 anos naquela semana.


O Pai que Não Sabia Dizer, mas Sabia Fazer


Eles nunca foram de muitas palavras. Seu pai não era do tipo que abraçava ou dizia "eu te amo" com facilidade. Mas ele fazia lasanhas aos domingos, assistia Matrix repetidas vezes como se fosse a primeira e, uma vez, quando ela era pequena, ensinou-a a dobrar barquinhos de papel.


Gabriela nunca lhe contou, mas continuou fazendo esses barquinhos sozinha, anos depois. Era uma maneira de mantê-lo por perto, mesmo quando ele já não estava mais ali.


A adolescência trouxe distância. Eram muito parecidos — teimosos, orgulhosos, cheios de silêncios que doíam mais que brigas. Mas, no fundo, ela sabia: ele a amava. E ela o amava também. Só não sabiam como dizer.


A Última Vez Sem Saber que Era a Última


Quando ele foi morar com Deus, Gabriela encontrou uma frase que a perseguiu: "Você nunca pensa que a última vez é a última vez. Você acha que haverá mais. Você pensa que tem para sempre, mas não tem."


Quantas coisas ela gostaria de ter dito? Quantos momentos teria guardado com mais cuidado se soubesse que eram finitos?


Mas o tempo não volta. E agora, o que restava eram as memórias — e a música.


O Para Sempre nas Notas de uma Canção


"Azul da Cor do Mar" não era só uma música. Era o riso dele no sofá, o cheiro de alho da lasanha no forno, os barquinhos de papel flutuando em poças imaginárias.


Gabriela não acreditava em fantasmas, mas acreditava em memórias. E, enquanto aquela canção tocava, ela podia jurar que ele estava ali, por um instante, do seu lado.

Talvez o "para sempre" não fosse sobre pessoas, mas sobre tudo o que elas deixavam para trás. E, enquanto ela conseguisse lembrar, ele nunca iria embora de verdade.


Então, Gabriela fechou os olhos, deixou a música levar, e sorriu. Porque, naquele momento, ele estava vivo outra vez.

Imagem ilustrativa criada por inteligência artificial.
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