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Intoxicação por metanol: vinho e cerveja estão livres de contaminação?

Especialistas e Ministério da Saúde explicam por que bebidas fermentadas são de difícil adulteração, enquanto casos de intoxicação por destilados criminosos disparam no país.


imagem: Amie Johnson/Unsplash
imagem: Amie Johnson/Unsplash

Um perigo invisível e letal ronda as prateleiras de bares e mercados. O Brasil enfrenta um surto crescente de intoxicação por metanol, um álcool altamente tóxico, após o consumo de bebidas alcoólicas adulteradas. A situação, tratada como "crime" pelas autoridades, já resultou em 59 notificações – entre suspeitas e confirmadas – e levou o Ministério da Saúde a instalar uma sala de situação para monitorar a crise em tempo real.

 

Os casos estão concentrados em São Paulo (53), Pernambuco (5) e, pela primeira vez, no Distrito Federal (1). Desse total, 11 já tiveram a presença do metanol confirmada em exames laboratoriais. Em coletiva de imprensa realizada na tarde desta quinta-feira (2), o ministro Alexandre Padilha foi enfático: a orientação principal, neste momento, é evitar o consumo de bebidas destiladas.

 

 Destilados: O Alvo da Criminosa Adulteração

 

Padilha explicou que as evidências apontam para um crime focado em produtos destilados e incolores.

"Estamos diante de um crime de produtos destilados, incolores, onde se tem técnicas de adulteração desse produto que você não tem no caso de cerveja, que é uma bebida que tem a tampa, tem gás, é muito mais difícil de adulterar", afirmou.

 

O ministro fez questão de diferenciar a crise atual de casos antigos, como o da cervejaria Backer.

"Naquele caso, você identifica qual o lote da produção. É diferente do processo de adulteração que está se identificando [atualmente], que provavelmente foi feito depois da produção dessas bebidas. Alguém adulterou essas garrafas. Então, quero reforçar essa orientação sobretudo para os destilados".

 

 E Cerveja e Vinho? São Seguros?

 

A preocupação generalizada levanta uma questão crucial: bebidas fermentadas, como cerveja e vinho, que possuem teor alcoólico menor, seriam uma alternativa segura? Especialistas ponderam.

 

De acordo com Ubiracir Lima, conselheiro do Conselho Federal de Química (CFQ), é possível que o vinho e a cerveja apresentem metanol em sua composição de forma natural.

"A produção natural de pequenas quantidades de metanol durante a fermentação se dá pela presença de polissacarídeos na casca dessas matérias-primas [como da uva, no caso do vinho, e dos cereais, no caso da cerveja], como a pectina", explica.

 

No entanto, quando fabricados por empresas regularizadas e em processos controlados, a probabilidade de contaminação perigosa é ínfima. O risco atual, segundo as investigações, está na adulteração criminosa após a produção, um modus operandi que, pela logística e embalagem, torna os destilados um alvo muito mais fácil do que as cervejas.

 

Lima ressalta que as investigações ainda estão em andamento e não é possível afirmar com certeza a origem do metanol nas bebidas envolvidas – se de uma produção falha ou de uma adição proposital para baratear custos.

 

 O Perigo do Metanol e a Corrida por Antídotos

 

O metanol é um álcool usado industrialmente em solventes e é extremamente perigoso quando ingerido. Ele ataca inicialmente o fígado, que o transforma em substâncias tóxicas. Essas toxinas comprometem a medula, o cérebro e, principalmente, o nervo óptico, podendo causar cegueira irreversível, coma e até a morte. Insuficiência pulmonar e renal também são complicações graves.

 

Os sintomas iniciais aparecem, em média, de 12 a 24 horas após a ingestão e incluem:

  •    Dor de cabeça

  •    Náuseas e vômitos

  •    Dor abdominal

  •    Confusão mental

  •    Visão turva repentina ou cegueira, em ambos os olhos

 

Diante de qualquer suspeita, a orientação do Ministério da Saúde é procurar imediatamente o serviço de emergência mais próximo.

 

Para enfrentar a emergência, o governo federal está garantindo o antídoto. Foi estabelecido um estoque de etanol farmacêutico nos hospitais universitários federais e adquiridas 4.300 ampolas para distribuição. Esse antídoto age impedindo que o metanol seja convertido em ácido fórmico, uma substância ainda mais perigosa. Em casos graves, a hemodiálise é utilizada para eliminar a toxina do organismo.

 

Enquanto as investigações correm para desbaratar a rede criminosa por trás das adulterações, a população é alerta: a escolha pela bebida, hoje, é também uma escolha por segurança.

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